Alimentação saudável e prevenção do câncer
Olá pessoal. Hoje temos uma convidada especial do nosso canal: a professora doutora Renata
Chavoni Zago. Doutora Renata é especialista em Nutrição Clínica e Oncológica. E nós vamos ter hoje um bate papo sobre nutrição e câncer, sobre dietas restritivas e alguns mitos e verdades relacionados a esse tema. Vamos falar também sobre a suplementação nutricional em relação aos pacientes com câncer. Renata bem-vinda ao nosso canal, é um prazer imenso tê-la aqui com a gente. Renata por favor fale um pouquinho da sua formação, a sua atuação como nutricionista e na área da nutrição oncológica. Primeiramente obrigada pelo convite Dr. Marciano. É um prazer. É um prazer estar aqui contigo e com todo o pessoal que assiste e acompanha o teu canal. Eu sou nutricionista há 10 anos e desde a minha formação em nutrição, eu fiz pós em gestão em gastronomia, eu fiz residência em nutrição oncológica no hospital aqui de Curitiba mesmo que o
Erasto Gaertner que é referência em oncologia. Fiz também mestrado em alimentação e nutrição lá na Federal aqui também do Paraná. Fiz pós em nutrição clínica funcional e sou chefe em gastronomia natural. Atualmente sou proprietária de um Empório Manjericão em Curitiba que é aqui em Curitiba é uma referência em alimentação saudável sendo que a cafeteria tem receitas assinadas por mim que são realmente saudáveis e a gente vai falar um pouquinho sobre isso, sobre alimentação de verdade que é o foco do meu trabalho também. Parabéns Renata. A gente percebe que você é muito envolvida com a área, que você tem paixão por isso. Então parabéns.
Renata hoje o assunto é nutrição e câncer e nós temos algumas coisas muito importantes para a gente desmistificar no nosso canal. Eu gostaria de começar essa conversa te perguntando Renata: o que você acha das dietas milagrosas, das dietas restritivas. Porque eu como cirurgião oncológico, é muito comum os meus pacientes... A gente indica uma cirurgia e o paciente as vezes perde peso no pré-operatório, perde peso durante o tratamento porque vai na internet e lê que o açúcar faz mal, os carboidratos alimentam o câncer, a proteína de origem animal alimenta o câncer e isso atrapalha o tratamento. Então gostaria que você falasse um pouquinho para a gente das dietas restritivas relacionadas ao câncer. Dr. Marciano, esse tema, esse tópico dentro desse tema, é muito importante porque eu também recebo os pacientes que muitas vezes já fazendo esse tipo de restrição por conta própria. Então porque olhou em site, viu em algum lugar o material falando dessas restrições alimentares... O que eu sempre abordo dentro do consultório é: o porquê você está fazendo essa restrição, da onde você retirou se foi orientado por alguém.
E o que a gente precisa pensar. Então dentro de uma dieta normal, uma dieta tradicional, uma dieta saudável a gente precisa ter todos os grupos alimentares: os macronutrientes: carboidrato, proteína, lipídios; e os micronutrientes que são vitaminas e minerais. Quando a gente pensa nesse contexto todo, a gente precisa lembrar lá do que é sempre falado, um equilíbrio alimentar. Quando as pessoas fazem restrição alimentar, seja uma restrição calórica, seja uma restrição de um único nutriente, por exemplo um carboidrato que é muito comum nas dietas cetogênicas, que eles veem em algum informativo falando para fazer a restrição do carboidrato, eles chegam no consultório muitas vezes retirando o carboidrato de uma maneira irregular dentro da alimentação.
O que a gente precisa pensar: quando o paciente ele faz uma restrição alimentar, uma restrição de algum nutriente, ele não sabe o quanto ele restringiu desse nutriente e o que acontece, a nutricionista, ela calcula toda a necessidade energética de carboidrato e de proteína, de lipídios que o paciente precisa e ela tem... Existe um cálculo para isso, você tem que atingir esse aporte para que o paciente não perca peso e principalmente não perca massa magra que é comum os nossos pacientes apresentarem a sarcopenia, que é uma perda muito grande da massa magra. Então quando a gente pensa numa dieta restritiva eu fico muito preocupada porque, por exemplo, dieta cetogênica: nós não vemos uma evidência científica para o uso de uma dieta cetogênica no consultório, uma orientação de dieta cetogênica, porque? Se você buscar os estudos a grande maioria dos estudos são com animais. Então é diferente quando você faz uma dieta cetogênica num paciente num ser humano, e quando você faz em um animal. O animal vai ser submetido a fazer aquilo que você coloca para ele fazer, o ser humano envolve várias outras coisas. Quando a gente pensa no ser humano a gente vai pensar na digestão, a gente sabe que dentro da oncologia envolve muito distúrbios digestivos, nos nossos pacientes. Então para digerir proteína e gordura por exemplo, a gente tem as moléculas de proteínas, gordura são muito mais difíceis de serem digeridas do que um carboidrato. Isso pode aumentar a náusea, vômito, por exemplo. Se você pensar que pensar dentro de um contexto e você observar os estudos com animais muitos deles até chegam a resultados interessantes, com humanos você não consegue chegar ao resultado final. A grande maioria dos humanos eles não atingem a quantidade de corpos cetônicos que estaria dentro dessa dieta cetogênica. Ou seja, eles não conseguem seguir a dieta. Perfeito Renata.Renata você vê muitos pacientes que fazem dietas cetogênicas também? Explica um pouquinho melhor para a gente o que é a dieta cetogênica que muitas pessoas vão na internet leem sobre isso e acabam, por escolha própria, sem procurar um auxílio profissional definindo que isso é o melhor para elas, então fala um pouquinho para gente o que essa dieta cetogênica. A dieta cetogênica é quando a gente faz uma restrição muito grande de carboidrato algumas... Existem vários protocolos mas o mais utilizado geralmente é em torno de 20 gramas de carboidrato no dia. Isso seria para você ter uma ideia uma fruta, uma fruta tem em média 20 gramas de carboidrato e o restante você completa com proteína e gordura mas com uma carga maior inclusive de gordura. A cetogênica Para você atingir os corpos cetônicos você tem que ter consumo de gordura no percentual total. Então eu vejo muitos pacientes querendo começar mas não conseguindo continuar por conta dessas intercorrências principalmente com sinais e sintomas, porque eles não têm uma capacidade digestiva boa naquele momento, seja porque estão fazendo quimioterapia, que já tem o uso de muitas medicações que atrapalham a digestão, seja pela localização do tumor onde já tem essa alteração na liberação das enzimas digestivas. Então eles acabam apresentando muitos sintomas e não conseguem seguir. Sem contar que dieta cetogênica se ela foi prescrita ela tem que ser prescrita por profissional. O que tem evidência hoje para a utilização é a epilepsia, para controle de epilepsia mas no câncer não tem nenhuma evidência concreta de que a gente tenha segurança, um nível de evidência forte para utilizar. Há uma perda muito grande de micronutrientes, porque você não ingere os micros então falta muita vitamina e muitos minerais. Você pode levar o paciente a uma desnutrição. Perfeito
Então Renata, na verdade o recado que a gente precisa deixar aqui nesse vídeo é que as pessoas que estão acometidas de câncer, que estão tratando um câncer que não - resumindo - que não iniciem nenhuma dieta restringindo algum tipo de alimento. É isso que a gente chama de dieta restritiva. Eu acho que o maior mito que existe em relação a isso Renata, é em relação aos carboidratos. Eu acho que assim, a questão do açúcar - eu queria que se falasse um pouquinho sobre açúcar - mas as pessoas restringem de maneira muito radical todos os carboidratos baseados só naquilo que leem na internet. Então em relação ao açúcar: algum tipo de recomendação sobre quantidade, para deixar as pessoas mais tranquilas, nessa ingestão de açúcar: o açúcar refinado, os doces de um modo geral. O que você tem a falar, alguma recomendação sobre isso Renata. Dr. Marciano esse é um ponto também muito importante de ser falado porque a gente precisa lembrar do resgate da alimentação de verdade. Resgatar a alimentação que é uma comida de verdade. Então uma comida de verdade você come o tubérculo, a batata, a mandioca, a fruta propriamente dita, a maçã, a banana, o abacate enfim, todas as frutas entram dentro desse contexto. Então é o resgate da comida de verdade. Muitas vezes o paciente chega no consultório e fala: me falaram que eu posso comer de tudo! Mas o que é de tudo? E o que é de tudo pra você é diferente do que é de tudo pra mim, o que é de tudo é muito subjetivo também porque o paciente.. E aí entra a questão do açúcar. Porque de tudo também... não é porque eu falei que não é legal, talvez não é interessante nesse momento fazer a dieta cetogênica que a gente vai liberar carboidrato refinado que não é comida de verdade, que é o açúcar de adição nos alimentos, isso não é legal. Isso não é legal pra ninguém.
Pra quem quer prevenir o câncer, para quem está em tratamento de câncer, para quem está no pós tratamento de câncer. Por quê? Porque açúcar não tem nenhum tipo de nutriente interessante para a nossa alimentação. Nem uma vitamina, nem um mineral. Agora quando a gente fala de um tubérculo que também é um açúcar, porque é o tubérculo, a batata, a mandioca, ele é um carboidrato, e essa molécula final quando ela for quebrada na nossa digestão ele é um açúcar. E isso não faz mal. Porque isso vem da natureza, e tudo aquilo que vem da natureza vem com vitaminas, vem com minerais e o que é mais interessante a gente consumir é aquilo que é o mais saudável possível. O menos processado possível? É isso? Exato, quando a gente fala muito dessa questão do minimamente processado. O mínimo que eu puder processar um alimento é o ideal para alimentação.
O que é que a gente vê de ultraprocessado não é interessante. Eu vou me dar um exemplo para o pessoal conseguir entender de uma maneira clara. Vamos pegar a cenoura: a cenoura in natura é um alimento in natura minimamente processado quando a gente processa o primeiro processamento, pode ser um suco com a cenoura, pode ser a cenoura cozida dentro de uma salada... Já houve um processamento dessa cenoura e o ultraprocessada é quando a gente encontra lá na prateleira uma barra de cereal que tem pedacinhos de cenoura, então ela teve um ultraprocessamento para entrar naquela barrinha, para entrar dentro daquele pacote, para ter uma validade de dois anos na prateleira, conservante... corante... e tudo mais. Perfeito Renata mas apesar do açúcar refinado não ser saudável também é um mito de que ele alimenta o câncer, isso tem que ficar bem claro a pessoa... se der vontade de comer uma sobremesa ou um pouquinho de açúcar isso não vai alimentar o câncer. Então a gente também tem que desmistificar isso e seguir essas recomendações que você falou.
Renata excelente essas recomendações sobre dietas restritivas. Então o recado que fica é que as pessoas não devem fazer nenhum tipo de dieta restritiva e as pessoas com câncer mais ainda porque o risco é dessa pessoa com câncer perder ainda mais peso, ficar ainda mais desnutrida e ainda mais fraca se somente levar em conta essas dietas que são divulgadas na internet, dietas de redes sociais de um modo geral. Renata muito obrigado pela sua participação mais uma vez aqui no nosso canal. Informações muito importantes, muito relevantes. Essa conversa de hoje eu acho que foi fundamental para as pessoas que tinham dúvidas sobre as dietas restritivas. Eu acho que a gente conseguiu esclarecer muita coisa. Eu espero contar contigo para mais participações aqui no nosso canal. Muito obrigado. Eu que agradeço.