A PSICOLOGIA DA COMPULSÃO ALIMENTAR
Muita gente tem passado bem mais tempo em casa do que o normal.
Isso aumenta as chances de algumas pessoas acabarem assaltando a geladeira mais do que seria saudável.
Eu sou o André e vou confessar para vocês: uma vez tive um episódio de compulsão alimentar.
Eu só me toquei do que tinha rolado vários dias depois.
Se esse assunto te interessa, assista também o vídeo que já fizemos sobre anorexia e bulimina nervosa.
Um episódio de compulsão alimentar ocorre quando você come muito mais do que você e a maioria das pessoas comeria, tanto em termos da quantidade quanto da circunstância na qual se encontra e do tempo que levou para comer.
Então se você comeu muito, mas está em um rodízio de pizza onde esse comportamento é esperado, não é disso que estamos falando.
Outra característica marcante é a sensação de falta de controle sobre o que está ingerindo, o que pode fazer você se sentir triste, culpado ou envergonhado depois.
A compulsão alimentar também pode se relacionar com uma maior chance de a pessoa apresentar problemas ligados à depressão, ansiedade, abuso de substâncias, diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares.
De um modo geral, ela pode reduzir a saúde física da pessoa, a sua qualidade de vida e a sua capacidade de funcionar em sociedade por atrapalhá-la no trabalho, nos relacionamentos ou nas tarefas cotidianas.
Ela está presente em muitos dos transtornos alimentares, tais como na anorexia nervosa do tipo purgativo, na bulimia nervosa e claro, no transtorno de compulsão alimentar.
Esse transtorno envolve episódios regulares de compulsão alimentar.
A regularidade desses episódios deve girar em torno de pelo menos 1 vez por semana ao longo de 3 meses, mas pode variar bastante a depender de cada caso.
A pessoa que vive essa condição pode comer muito rápido, comer até ficar muito estufada, comer muita comida mesmo sem fome ou comer secretamente para ninguém ver o quanto ela comeu, além de se sentir mal consigo mesma pelo que fez.
Vale ressaltar também que a compulsão alimentar ocorre dentro de um contínuo que vai desde um nível mais brando e comum na população até níveis bem extremos e prejudiciais que caracterizam o transtorno que acabei de descrever.
Algumas pesquisas já identificaram que certos fatores são especialmente impactantes na compulsão alimentar, seja porque funcionam como predisposições, fatores precipitantes ou mecanismos de manutenção dela.
Vamos falar hoje mais detalhadamente de 5 desses fatores.
Um deles é a baixa autoestima, assunto que já abordamos em outro vídeo.
Ela funciona tanto como fator de vulnerabilidade como de manutenção, já que depois de predispor a um primeiro episódio de compulsão ela pode ficar mais baixa ainda e estimular novos episódios.
Essa avaliação negativa que a pessoa tem de si mesma pode ser reacendida por algum evento ou situação, tal como fracassar em uma tarefa, receber uma crítica ou perceber que está aumentando de peso, por exemplo.
A partir dai, a pessoa pode vivenciar mais facilmente afetos negativos como estresse ou ansiedade e eles a motivarão a fazer algo para reduzí-los por serem desagradáveis.
E é nessa etapa que outra variável entra em jogo: a dificuldade em regular as emoções.
Ao longo da vida, podemos aprender diferentes estratégias para regular nossas emoções negativas, sendo que algumas pessoas se tornam mais competentes em lidar com elas do que outras.
Tendo uma maior dificuldade em regular emoções, algumas pessoas podem se engajar mais frequentemente em estratégias de enfrentamento menos saudáveis, tais como o abuso de substâncias e a compulsão alimentar.
Olhando por esse ângulo, a compulsão seria uma estratégia de regular o estado emocional e algumas pessoas podem nem notar com clareza que se engajam com regularidade em episódios de compulsão ou que existem influências emocionais nesse comportamento.
Outro complicador comum é a restrição alimentar severa.
Pessoas que fazem dietas muito restritivas por um tempo prolongado tem uma chance maior de viver um episódio de compulsão.
A restrição alimentar excessiva causa modificações metabólicas, hormonais e psicológicas que predispõem a pessoa a perder o controle da sua ingestão de comida no futuro.
Ironicamente, na busca por uma perda de peso mais rápida, as pessoas podem acabar ganhando mais peso do que tinham no início da dieta, algo conhecido como efeito sanfona.
O último fator envolve as crenças sobre comer e existem 3 tipos principais de crenças.
As permissivas são aquelas ideias que de certa forma autorizam a pessoa a exagerar na comilança.
Um exemplo seria a crença de que "quando eu não to bem, eu preciso de doce" ou "eu não consigo me controlar com pipoca".
As crenças positivas são aquelas ligadas à noção de que comer tem a função de acalmar a pessoa.
Alguém pode acreditar, por exemplo, que "comer faz eu me sentir melhor".
Já as crenças negativas são relacionadas às consequências negativas que a pessoa percebe em comer, tal como a ideia de que "vou engordar se eu comer".
Uma possibilidade é que vivenciar um afeto negativo poderia ativar algumas dessas crenças na pessoa, e no caso das crenças ativadas serem positivas ou permissivas, haveria uma chance maior da pessoa comer de forma compulsiva.
Já a ativação das crenças negativas estimularia comportamentos compensatórios como o vômito ou o uso de laxantes, algo que pode ser observado em outros transtornos alimentares.
Se quiser nos mostrar o quanto gosta do nosso trabalho de divulgação científica, clique no joinha, inscreva-se no canal, clique no sininho e torne-se um apoiador nosso clicando em SEJA MEMBRO.
Não deixa de seguir a gente também no Instagram e no Twitter.
Vale ressaltar que todos esses fatores descritos aqui podem ter influências independentes.
Isso quer dizer que mesmo pessoas com uma autoestima elevada, mas que estejam, por exemplo, em uma dieta muito restrita ou vivenciando afetos negativos, também podem se envolver em episódios de compulsão.
A boa notícia é que existem tratamentos efetivos para quem está vivendo esse tipo de problema e mais detalhes podem ser encontrados na descrição do vídeo.
A psicoterapia é uma das formas de intervenção mais recomendáveis.
Ela pode permitir que coisas como a autoestima e crenças relacionados à comida sejam flexibilizadas.
O primeiro passo no tratamento tende a ser ajudar a pessoa a interromper os episódios de compulsão.
Nessa etapa, tanto medicamentos quanto estratégias comportamentais podem ser empregadas a depender do caso.
Para saber qual é a melhor forma de proceder, é importante que seja conduzida uma avaliação psicológica abrangente por um profissional qualificado para fazer isso.
Mas só interromper os episódios não resolve totalmente o problema: é preciso entender que fatores estavam por detrás desses episódios e ajudar a pessoa a modificá-los.
Esses fatores vão desde os processos psicológicos que descrevemos aqui até características do contexto no qual a pessoa vive, tal como morar com alguém que tem hábitos alimentares pouco saudáveis.
Esses fatores também podem envolver questões culturais, tais como o estigma do peso, assunto que abordamos em maiores detalhes em outro vídeo.
Outra intervenção recomendável é a de fazer um acompanhamento com um nutricionista.
Ele poderá ajudar a pessoa a seguir um plano alimentar mais adequado, sustentável e saudável, diminuindo assim as chances de novos episódios de compulsão ocorrerem.
Agora aqui vão algumas dicas mais simples do que você pode fazer no seu dia a dia para diminuir as chances de chutar o pau da barraca na próxima visita à cozinha.
Dica número 1: questione regularmente as suas crenças e pensamentos sobre comidas e sobre comer.
Não detalhamos muito isso no vídeo, mas essas crenças ajudam na manutenção da compulsão.
Por isso, reveja a sua relação com a comida.
Você acredita que não tem problema comer muito quando estiver estressado ou que você é descontrolado mesmo e não tem jeito?
Se sim, tome cuidado, pois essas ideias podem encurtar a distância entre hoje e um próximo episódio de compulsão.
Dica número 2: dificulte o seu acesso a alimentos que te fazem perder o controle mais facilmente.
Talvez a sua vítima favorita seja uma barra de chocolate, por exemplo.
Se você tem esse alimento na sua cozinha ou se ele fica posicionado em um local de fácil visualização, é bem mais provável que você vá comê-lo em breve.
Para virar o jogo, fique um tempo sem esse alimento na sua casa.
Você também pode armazená-lo em um local menos visível ou de acesso mais difícil..
Dica número 3: mantenha uma rotina mais estável de sono e alimentação.
Muitos episódios de compulsão ocorrem no fim do dia ou na madrugada quando a pessoa fica mais tempo acordada do que seria o ideal.
Se você dormir regularmente em um mesmo horário, fica mais fácil planejar as suas refeições para que no fim do dia esteja bem saciado já e aí o seu estômago não fique assanhadinho demais.
Dica número 4: monitore a influência das emoções na sua alimentação.
Agora que você já sabe que ansiedade, estresse ou tristeza podem te predispor a exagerar na comida, comece a analisar qual era o seu estado emocional logo antes de pensar em ir comer algo na cozinha.
Fazer isso não é necessariamente tão simples, já que a fome pode gerar um desconforto que possui semelhanças com o gerado por outras emoções.
Na próxima ida à cozinha, faça a si mesmo a seguinte pergunta: eu estou indo comer por causa da fome ou de alguma outra coisa?
Se não for pela fome, deixe a sua refeição para depois.
Hoje te explicamos o que é a compulsão alimentar, o transtorno de compulsão alimentar e quais são algumas das consequências negativas que a compulsão pode gerar para a saúde.
Também descrevemos alguns dos principais fatores que aumentam as chances de alguém ter um episódio de compulsão, quais são alguns dos tratamentos mais indicados e demos algumas dicas para que o seu cotidiano seja menos propício a episódios de compulsão.
Gostou do tema que abordamos hoje?
Achou as informações úteis?
Se sim, clique no joinha, inscreva-se no canal e clique no sininho para não perder os próximos vídeos.
Assista também o nosso vídeo sobre a relação entre magreza e saúde.
